quinta-feira, 10 de julho de 2008

O leite da raposa azedou



Fox, em inglês, tem muitos significados. Além de ser o substantivo “raposa”, também tem a ver com astúcia, inteligência. Se colocamos um “y” ao fim da palavra, tornando-a “foxy”, também é adjetivo para mulher bonita. Versátil, essa palavrinha tão pequena. Mas que tristeza! A Fox, da tevê a cabo, não tem nada disso.

É, mas só a palavra. A Fox, rede de televisão a cabo, nega todos os significados de fox, o substantivo da língua inglesa. É, ou deve ser, a única raposa boba e, sem o “y”, nega também o adjetivo. Ficou feia. Eu já digo o porquê.

Há anos, você vai ao mesmo supermercado e compra a mesma marca de leite em pó desnatado, digamos. Da noite para o dia, lá, naquela mesma prateleira de sempre, você dá de cara com o produto que você comprava, só que com tudo diferente, menos o nome: é leite, mas não é desnatado, é de soja. Você até compra, impelido pela força do hábito, façamos de conta. Só que, ao chegar em casa, nota que o gosto está horroroso. Arght! A indústria até avisou que “oportunamente” voltaria a produzir o leite como antes, mantendo as duas versões, a horrorosa e a que você estava acostumado, só que, um ano se passou e nada. O que tem de opcional é: ou você não toma mais aquele leite, ou se acostuma com o gosto ruim da soja.

Essa é a situação que existe na tevê a cabo atualmente. A indústria de leite é o canal Fox; o leite são as séries de grande sucesso, como a (mediana) Bones, a (excelente) Nip / Tuck e a (chatíssima) 24 horas; o leite desnatado é a versão legendada, com a qual os milhares de espectadores estão acostumados há anos; e o leite de soja é a versão dublada dessas séries. E, até agora, eu e um monte de gente (há até um movimento de blogueiros contra o desrespeito da Fox) que via essas séries ou teve de se acostumar com a canastrice dos personagens (mal) dublados, que os canais abertos já oferecem sem custo nenhum, ou desistir dos seriados de que gosta mostrados pela Fox. Ou seja, a Fox não tem sido nada astuta, nem um pouco inteligente e ainda perdeu a beleza das vozes dos atores no original das séries. Em três palavras: burra, boba e feia, como diria a mais elevada das alminhas de qualquer moleque de quatro aninhos.

Eu via Nip / Tuck. Acho uma das séries mais inteligentes que a Fox apresenta e sempre falei do seriado com tanta vivacidade que alguns amigos passaram a assistir. Uma, professora universitária que leciona Semiótica, até chegou a passar trabalhos para os alunos que tinham por base alguns episódios. Um monte de turmas, nas quais ela dá aula e pediu o trabalho, se apaixonou pelos cirurgiões plásticos e passaram a assistir também Nip / Tuck lindo, no original, legendado, mantendo as nuances das falas dos ótimos atores do jeito que eles talharam os personagens; o bom-moço e homem de família Sean McNamara, o amoral e lascivo Christian Troy, a frágil e insegura Julia e por aí vai. Pois todos nos vimos surpreendidos, em julho do ano passado com a mudança para a “soja”.

Entendam, nada contra os dubladores nacionais, que, inclusive, fazem ótimos trabalhos em muitas animações. Os Simpsons, quando eu via, preferia dublado porque me parecia bem melhor. Não gosto do Homer fanho americano. O nacional tem uma voz que já mostra o desleixo próprio do personagem, a eterna dúvida sobre as coisas mais óbvias, ainda assim, dizem que mudaram o dublador. Para pior! Mas, com seriados que tem atores, gente, a coisa fica diferente. Em de Nip / Tuck, então, a coisa é absurda. O Troy original, legendado, é canastrão no melhor sentido da palavra, para um personagem, é libertino, vicioso; o dublado parece um cafetão barato de boca suja. E, boca suja só agora, porque, no começo dessa dublagem ruim, chegavam ao absurdo de censurar as falas dos personagens. O McNamara original é aquele bom-moço admirável, ideal de genro; em português ele é só um bobalhão, um mané. Minha série preferida empobreceu absurdamente da noite para o dia. Foi uma espécie de grande confisco do Collor, sem o Collor nem a Zélia. Foi um confisco de profundidade dos meus personagens queridos e pelo qual continuo pagando, como se concordasse com o "roubo", toda vez que chega a fatura do canal a cabo.

Dizem que o interesse em dublar as séries é comercial, o que eu acredito, uma vez que a tevê a cabo, no Brasil, não se paga e tem de exibir comerciais que vão desde Polishop até pasta de dente (os mais irritantes que podem existir). Há até canais que, durante a madrugada, só exibem o cafoníssimo Medalhão Persa e congêneres, vendendo jóias feiosas como se fossem preciosidades, quadros de Tia Marta como se fossem Van Goghs. Já que temos de ter essa “ajudinha” para pagar a tevê a cabo, até aturo. Desligo a televisão ou evito canais que exibam a “ajudinha”. Mas daí a aturar série dublada vai uma larga distância.

Os cirurgiões plásticos de Nip / Tuck e o herói “eu-sou-fodão” de 24 horas já tem suas versões dubladas em canais abertos, em temporadas bem anteriores às que são exibidas nas tevês a cabo. Então, eu me pergunto, por quê “invadirem” a tevê paga? Será que pensam que os espectadores de Estética (o nome de Nip / Tuck no canal aberto, que, ao meu ver, é limitador) vão se dispor a pagar televisão a cabo para poderem olhar o futuro dos personagens que vêem gratuitamente na tevê aberta? Ou acham que o espectador de tevê a cabo tem saudades da tevê gratuita, que, continua lá disponível, bastando para isso, que se troque o canal? De muitas maneiras, acho que a dublagem dessas séries é emburrecedora.

No caso de Nip / Tuck, por exemplo, a coisa é gritante. No começo (não pensem que não tentei me acostumar com o “leite de soja”), eu tentava aturar a falta de nuances dos personagens que me pareceram rasos demais. Sei que parte disso é devido ao fato de que, simplesmente, acostumei-me com as vozes originais e sempre admirei a qualidade da atuação, das camadas de sentimentos que vinham impressas na voz dos atores e que, na dos dubladores, simplesmente sumiram. Não quero personagens ralos, personagens "Tang". Se fosse assim, eu simplesmente assistiria novelas, que, até para os que gostam do gênero televisivo, já começam a ser cansativas por tão rasas que as personagens são. Aliás, estão mais para tipos do que para personagens. Eu, acostumada a personagens profundos de Nip / Tuck, recusei-me a me acostumar com tipos.

E o que dizer sobre a “alternativa legendada” que o canal disse que “oportunamente” disponibilizaria? Sinto-me enganada. Sinto-me quase um daqueles membros de seitas que ficam avisando sobre o fim do mundo próximo. Está sempre próximo, será oportuno, mas nunca vem. Mas, ainda pior, a seita Fox mata. Como Jim Jones e outros que matavam os ingênuos fiéis que acreditavam na “alternativa” de mundo e na oportunidade do meio, a Fox mata. Não por suicídio, mas por tédio.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Frederico, cadê os patos?

Sei que tem gente que faz "postagem inaugural". Bacana, né? Acho muito formal para algo tão informal quanto blog é. Todo blog é informal e é por isso que os blogs de notícia estão aí dando lavada em canal a cabo, canais de notícias; jornais e revistas, então, nem se fala porque é covardia. É a informalidade do blog e a rapidez com que ele muda que fazem dele algo que dá certo. E o que é formal não muda lá com muita facilidade, convenhamos.

Pois é. Aqui não vai ter postagem inaugural. Só vim explicar cadê os patos em um template de flores que estão de cabeça (ou pétalas) para baixo, em um vaso com água que acaba servindo de lente de aumento para as cores, a delicadeza das pétalas, as formas, que, para a beleza, para o efeito que flores têm, importam bem mais do que os cabinhos verdes. Então é isso. Este é o blog do Frederico que gostava de patos (e continua gostando, posso garantir) sem patos no template. Até porque ia ficar meio óbvio. Mas não desejo queimar pontes. Um dia, quem sabe, talvez, se esse blog vingar, eu ceda ao óbvio, porque não estou acima dele, não sou genial e nem tenho pretensão disso (se bem que só de se falar que não se tem uma pretensão, já seja uma mostra de que se tem a dita cuja. Não neste caso, posso garantir).

Este Frederico tem patos na cabeça e os vê, mas não os tem dentro de casa. Vejo o mundo, as pessoas, os fatos, mas - ainda bem! - muitas das que vou comentar aqui não estão na minha casa, então, por que Frederico teria os patos aqui? Ele só os comenta, só os mostra ou a seus absurdos, os dessas criaturinhas amarelas, fofas, mas que fazem uma sujeira incrível. É isso. Frederico gosta de patos, mas não os tem.

A lente de aumento que é o vaso com água serve mais ao Fred. Ele vê o mundo assim, ampliado, algumas vezes, outras, de modo atrapalhado pela distorção do formato do vaso. E, para quem aparecer, é assim que também vai perceber - ou ler - as coisas, as pessoas, os fatos, as minhas maquinações.

É isso. A quem ler o Frederico gostava de patos, aproveite a visão dos patos e continue com o Frederico que os olha pela janela, com a ajuda do vaso de flores.

Aliás... Hmmm... Não é com vasos de flores que as baianas lavam lá a escadaria da Igreja do Senhor do Bonfim? Grandioso Oxalá! Oxalá, aliás, o Fred e os patos vinguem. Pronto. Taí! Sem pensar em postagem inicial, eis que essa, com lavagem com água de flor e Oxalá (oxalá também) no meio se tornou uma. E uma cheia de bom agouro, acho.

Ai... Pensando bem, tudo isso soou meio, ahn... inaugural e um tanto pretensioso. Mas eu avisei - não foi? - que não consigo (e às vezes nem quero, embora esse não tenha sido o caso) fugir do óbvio. Photobucket